sexta-feira, 3 de março de 2017

O ofício de professor


Há muitas exigências para o profissional da educação e o professor Philippe Perrenoud, da Universidade de Genebra, resolveu reunir dez grandes famílias de competências em um livro para orientar e refletir a ação do docente num contexto de constantes transformações. “Enfatizarei o que está mudando e, portanto, as competências que representam mais um horizonte do que um conhecimento consolidado”, diz o autor na introdução do livro, que pode interferir na formação contínua de quem se dedica à educação.

Dez novas competências para ensinar, lançado pela Artmed Editora, aborda, em cada capítulo, as seguintes faculdades, reconhecidas como prioritárias na formação de professores do ensino fundamental: organizar e dirigir situações de aprendizagem; administrar a progressão das aprendizagens; conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam; envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; trabalhar em equipe; participar da administração da escola; informar e envolver os pais; utilizar novas tecnologias; enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; e administrar a própria formação contínua.

Para “organizar e dirigir situações de aprendizagem”, o livro propõe competências mais específicas, como conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem. “A competência requerida hoje em dia é o domínio dos conteúdos com suficiente fluência e distância para construí-los em situações abertas e tarefas complexas, aproveitando ocasiões, partindo dos interesses dos alunos, explorando os acontecimentos, em suma, favorecendo a apropriação ativa e a transferência dos saberes, sem passar necessariamente por sua exposição metódica, na ordem prescrita por um sumário”, argumenta Perrenoud.

A competência “organizar e dirigir situações de aprendizagem” exige ainda, segundo o livro, trabalhar a partir das representações dos alunos, pois isso pode ajudá-los na aproximação do conhecimento científico a ser ensinado. Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem seria outra competência mais específica, já que considera o erro uma ferramenta para ensinar, “um revelador dos mecanismos de pensamento do aprendiz”. O professor também deve saber construir e planejar dispositivos e seqüências didáticas, além de envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de conhecimento.

A segunda competência, “administrar a progressão das aprendizagens”, compreende cinco outras capacidades. A primeira diz que o professor deve conceber e administrar situações-problema ajustadas ao nível e às possibilidades dos alunos. A outra capacidade diz que o docente deve adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do ensino, além de estabelecer laços com as teorias subjacentes às atividades de aprendizagem. O professor também deve saber observar e avaliar os alunos em situações de aprendizagem, de acordo com uma bordagem formativa, e fazer balanços periódicos de competências e tomar decisões de progressão.
Para “conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação”, a terceira competência, o professor deve, segundo o autor, administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma, abrir e ampliar a gestão da classe para um espaço mais amplo, fornecer apoio integrado, trabalhar com os alunos portadores de grandes dificuldades e desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas simples de ensino mútuo.

A quarta competência, “envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho”, explica o Perrenoud, deve suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o saber, o sentido do trabalho escolar e desenvolver na criança a capacidade de auto-avaliação, além de instituir e fazer funcionar um conselho de alunos e negociar com eles diversos tipos de regras e de contratos. O docente ainda pode oferecer atividades opcionais de formação e favorecer a definição de um projeto pessoal do aluno.

O “trabalho em equipe” pede para o professor elaborar um projeto de equipe, com representações comuns, dirigir um grupo de trabalho, com habilidade para conduzir reuniões. Além disso, é importante saber formar e renovar uma equipe pedagógica, enfrentando e analisando em conjunto situações complexas, práticas e problemas profissionais. Administrar crises ou conflitos interpessoais também são habilidades esperadas, segundo o livro.

A participação da administração da escola é fundamental no domínios das competências. É necessário, nesse sentido, elaborar e negociar um projeto da instituição, administrar os recursos da escola, saber coordenar e dirigir uma escola com todos os seus parceiros, além de organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação dos alunos.
O professor, segundo Philippe Perrenoud, deve saber informar e envolver os pais, dirigindo reuniões de informação e de debate. Quando necessário, deve ainda ter a capacidade de fazer entrevistas. Tudo com o objetivo de envolver os pais na construção dos saberes.

A oitava competência, diz o livro, é a de “utilizar novas tecnologias”. Inclui saber utilizar editores de textos, explorar as potencialidades didáticas dos programas em relação aos objetivos do ensino e comunicar-se à distância por meio da Internet e de outras tecnologias. As ferramentas multimídia também devem ser consideradas para o ensino.
“Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão” é a nona competência apresentada por Perrenoud. Para ele, o professor deve prevenir a violência na escola e fora dela, lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e sociais, e participar da criação de regras de vida comum referentes à disciplina na escola, às sanções e à apreciação da conduta. Nessa competência ainda inclui a capacidade de analisar a relação pedagógica, a autoridade, a comunicação em aula, além de desenvolver o senso de responsabilidade, solidariedade e o sentimento de justiça.

Por último, a competência de “administrar sua própria formação contínua” propõe que o docente saiba explicitar as próprias práticas, estabelecendo seu próprio balanço de competências e seu programa pessoal de formação contínua. Deve-se ainda negociar um projeto de formação comum com os colegas da escola ou da rede. Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de ensino ou do sistema educativo e acolher a formação dos colegas e participar dela são outras competências específicas esperadas de um profissional da educação.

Na conclusão do livro, para o leitor que sentiu uma certa arbitrariedade com relação às formulações das competências em dez famílias, Perrenoud diz que participou ativamente da redação do livro, mas sentiu um certo grau de imposição. “Isso não tem nada de estranho: todo texto elaborado em um quadro institucional, sobretudo se negociado entre numerosos agentes, revela um compromisso entre lógicas diferentes, e, às vezes, interesses opostos. Ele perde em coerência o que ganha em representatividade”, justifica o autor.

Autor(es): Philippe Perrenoud. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos e consultoria de Cristina Dias Alessandrini
Editora: Artes Médicas Sul
Páginas: 192

MENEZES, Ebenezer Takuno de. O ofício de professor. Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2000. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/o-oficio-de-professor/>. Acesso em: 04 de mar. 2017.

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